Cadê o papai?

Há algumas semanas recebi a notícia que seria pai. Como qualquer pai apaixonado por futebol, uma das primeiras coisas que vem à cabeça é a ideia de que é inevitável que uma das heranças deixadas é o time. Sonhamos com o dia em que juntos estaremos no estádio, se possível comemorando um título e discutindo sobre as disputas do clube. Então, nessas duas últimas semanas me peguei pensando que indubitavelmente não influenciarei o meu filho a torcer para o time que eu escolhi. Coração é terra sem dono, e depois que nos apegamos é difícil deixar de lado, mas querer o melhor para os nossos filhos é algo natural. José Saramago dizia que ser pai é o maior ato de coragem de um homem. Eu iria além, dizendo que influenciar um filho a torcer para o Goiás, fica na linha tênue entre a coragem e a loucura.

Fazendo uma analogia com paternidade, já que o tema se tornou realidade em minha vida, a cada dia estamos nos tornando órfãos de bons pais. Pais que tomem decisões corretas e sensatas, que decidam estar isentos dos seus antigos desejos, e escolha boas pessoas para estar presente em nossas vidas. Precisamos de um pai que tenha autonomia e autoridade inquestionáveis, que não tenha sua palavra colocada em xeque, que seja respeitável e que respeite, que auxilie nas decisões, dê um apoio coerente nos momentos difíceis e que proporcione momentos de alegria e prazer.

Tudo isso nos falta hoje, e a falta disto tudo tem nos levado a caminhar próximo a um caminho tortuoso, marginalizado, chegando a segregação. Deixamos de ser o filho querido para ser o filho que é levado com a barriga, que não dispõe de atenção e dedicação, que não consegue enxergar um futuro bom. Prova mais clara disto é a manutenção do nosso ídolo, Silvio Criciúma, no comando técnico e tático do time. Infelizmente, ainda não podemos chama-lo de treinador, pois lhe falta conhecimento. Fazer a vontade das crianças mimadas, está custando caro demais para o clube, ficando para trás na disputa pelo acesso. Os clubes estão se distanciando e continuamos aguardando o milagre de adentrarmos a terra prometida, enquanto ainda estamos rodando no deserto da série B, em um êxodo cansativo e destrutível. Temos o segundo melhor elenco da série B, somente atrás do Internacional, e ainda assim estamos patinando em cima da escolha de manter o queridinho das crianças.

Com boas opções no Mercado, como o Vagner Mancini, Eduardo Baptista e Marcelo Oliveira, entre outros, está na hora de quem quer que se intitule “homem do lar” deste clube fazer valer a responsabilidade que lhe foi confiada, fazendo uma escolha sensata, pois ainda há tempo, ainda pode ser remediado, a ferida ainda não foi aberta. Aproveitar a derrota para o Guarani e a quase certa derrota para o Criciúma, é o álibi perfeito para começar a mudar a história de um filho que está doente, caminhando a passos largos para um estado terminal.  Como cantou Caetano: “Quando a gente gosta é claro que a gente cuida. ”