Um clube que não evolui.

Eu me lembro quando mudei para Goiânia em 1997 e passei a acompanhar mais de perto o Goiás Esporte Clube. Morando no Jardim América, eu ficava entre a sede social do clube, na Serrinha, e o Centro de Treinamentos do Parque Anhanguera, tendo a possibilidade de acompanhar mais de perto a realidade do clube, sempre antenado no que acontecia no mundo do futebol.

 

Naquela época já eramos considerados um clube com uma excelente estrutura. Quase dezenove anos se passaram, mas em termos de estrutura, pouca coisa mudou. Em nível nacional tivemos o surgimento das chamadas arenas, que vieram para servir aquela inesquecível Copa do Mundo de 2014. Mesmo assim, muitos clube em nível nacional ainda mantém a mesma estrutura da época, sendo que alguns sequer possui um centro de treinamento moderno ou que atenda as exigências do futebol atual.

 

São duas décadas, alguns rebaixamentos, vários títulos estaduais, um sonho continental frustrado, mas com gosto de nostalgia, e nenhum sucesso em nível de competições nacionais. Nesse ínterim, perdemos vários jogadores e treinadores para os clubes do eixo sudeste-sul, com diversos casos de sucesso. Nós ficamos aqui, somente na expectativa de que as coisas poderiam mudar um dia.

 

Hoje, eu faço uma análise das pessoas que dirigem o clube e vejo que são as mesmas daquela época – somente Raimundo Queiroz foi embora. Para se ter uma ideia do efeito da passagem do tempo, nosso Presidente da República era Fernando Henrique Cardoso, ainda em seu primeiro mandato. Dunga, atual técnico da seleção, ainda jogava futebol profissionalmente. Ronaldo Fenômeno ainda faria muita história no futebol, no ano que teve o Vasco como campeão brasileiro, na equipe comanda por Edmundo e Evair, contra o Palmeiras do promissor técnico Luis Felipe Scolari.

 

O Goiás, como sempre, se limitava a brigar com o Vila Nova pelo título estadual, numa época em que o Goiânia ainda era um dos maiores campeões estaduais e, naquele ano, viria ser rebaixado pela primeira vez em sua história. Em 1997, fomos campeões, na decisão contra o CRAC de Catalão, com uma equipe comandada por Alex e Aluísio, este último que foi o artilheiro do campeonato, com 27 gols. Era tanta gente que ia ao estádio naquela época, que as gerais ainda eram utilizadas. A farra era tão grande, que a torcida esmeraldina invadiu o gramado antes do fim do jogo. Quase um mês depois, vencemos o Grêmio por 6 X 0 no Serra. Naquele ano, ainda alcançaríamos a façanha de ser incluído como membro do “Clube dos 13”. Na mesma temporada ainda perderíamos o ídolo Tão Segurado.

 

A prova de que o clube evolui lentamente está no fato de que velhas figuras ainda fazem parte da gestão do Goiás. Não ganhamos nada de relevante de lá pra cá. Pouca coisa mudou na nossa estrutura. Deixamos de revelar bons jogadores e perdemos a qualidade de contratar revelações. A única possibilidade de mudança seria, em tese, a saída de boa parte das pessoas que estão a décadas no comando do clube. Uma renovação total e uma mudança radical na mentalidade e na gestão do clube. Deixar de pensar pequeno ou assumir de vez a sua pequenez.

 

Um elemento que contribui para nossa acomodação é a fragilidade da maioria dos times que disputam a Série B. Exceto o Vasco, sobretudo por ter uma base mantida desde 2015, não há um clube que tenha um elenco superior ao nosso, ressaltando que a maioria deles estão bem atrás de nós em termos de plantel. Não que isso nos assegure o direito de disputar título ou ficar entre os classificados para a Série A. Nada disso. É somente uma constatação de que estamos à frente da maioria dos nossos adversários, mesmo estando desagradando boa parte da torcida. Por outro lado, muitos ainda estão disputando a Copa do Brasil, enquanto o Goiás foi eliminado pelo River/PI.

 

Agora, fica a dúvida. Provavelmente subiremos, e já estamos quase no meio da temporada. E como está o planejamento para a temporada de 2017? Quais as metas e objetivos do clube? É querer demais não é! Esperar transparência e um modelo eficiente de organização dessa turma que está aí chega a ser quase um absurdo. Por isso, a torcida, que no passado quase não cabia no estádio, vai se afastando aos poucos, deixando de caminhar com o clube, sobretudo pelos inúmeros e injustificáveis insucessos das últimas temporadas e pela falta de perspectivas e de sonhos. Não há como o torcedor mudar, se o clube não muda.