Um dos reforços contratados para 2017, o zagueiro Fábio Sanches, titular nos dois primeiros jogos do Goiás na temporada, concedeu uma entrevista exclusiva ontem ao blog. Fábio falou de tudo um pouco, contou sua história, trouxe um panorama geral do clima no elenco, os motivos que o fizeram acertar com o Goiás e os objetivos do clube para este ano. Falou também sobre as ideias de Gilson Kleina para a equipe e o que vem sido treinado e pedido pela comissão. Confira!
Fábio, antes de tudo, eu gostaria que você se apresentasse para o torcedor esmeraldino, contar como foi o começo de sua carreira, os clubes que você passou, as dificuldades que você enfrentou nesse caminho…
Eu saí com 13 para 14 anos de casa, fui para o Paulista de Jundiaí. Foi meu primeiro clube da categoria de base e no Paulista eu fiquei em torno de três anos e depois desanimei, não queria mais jogar, queria parar e por persistência do meu pai comecei a rodar em alguns outros clubes. Fiquei no Santo André um tempo, no São Paulo, até chegar no Mogi, onde foi meu último ano de categoria de base e lá eu já subi para o profissional em 2010 e joguei meu primeiro Paulistão com 18 anos. De 15, joguei 14 partidas. E aí em 2010 mesmo, o Rivaldo era até então o presidente do Mogi, acabou me negociando com o Mallorca da Espanha. Fui para o Mallorca e assinei por quatro temporadas lá. Mas um pouco antes de eu ir, acabei machucando o tornozelo, tive uma lesão grave, então fiquei tratando um pouco e fui para lá machucado e não consegui me recuperar, não conseguia jogar e acabei voltando. Voltando fui para o América de Natal, em 2011, onde eu consegui meu primeiro acesso, da série C para série B. Depois passei pelo Paysandu, onde tive outro acesso também. Joguei alguns paulistões pelo Mogi, Atlético de Sorocaba, XV de Piracicaba e tive outro acesso pelo Mogi da série C para série B em 2014 e ano passado estava no Avaí, onde eu consegui o acesso também da série B para série A.
Qual era a imagem que você tinha do Goiás antes de vir para cá?
Sempre tive uma imagem muito boa. Acompanho futebol e a gente sempre via o Goiás na série A e grandes jogadores jogando aqui, então sempre tive uma imagem muito boa e também tenho um amigo particular que jogou aqui, que é o Ricardo Goulart. Ele é da minha cidade, a gente cresceu junto, sempre jogamos na mesma escolinha. Então ele falou muito bem daqui também. No Avaí tinha o Lucas Coelho que jogou aqui também, perguntei para ele e ele falou bem, então só tive informação boa antes de vir para cá e por isso acabei decidindo.
E após a sua chegada, o que dá para afirmar que superou suas expectativas em relação ao clube? O que tem sido melhor do que esperava? Existe alguma coisa que você se decepcionou?
Tudo foi mais do que eu imaginava. Eu via pela estrutura do clube e fiquei impressionado mesmo quando eu cheguei, com o CT, com a estrutura, com todo o suporte que o Goiás dá para os jogadores. Não só eu, mas os outros jogadores que chegaram também. A gente conversa, bate um papo entre a gente e todo mundo ficou impressionado com a estrutura. Ficou todo mundo feliz e realizado de estar em um clube desse, o que acabou motivando a gente ainda mais, a gente ficou muito feliz e acabou dando um ânimo a mais para gente estar jogando.
O Goiás é tido na imprensa nacional como um clube que tem uma estrutura muito boa. Até que ponto isso é importante para a conquista de títulos? A torcida do Goiás cobra muito que o clube ainda não conquistou um grande título…
Claro que a gente fala dessa estrutura, mas aí vai muito do jogador também, muito de cada um. Não adianta ter uma estrutura dessa e o jogador não estar comprometido e não estar querendo. Mas, até como eu falei com o Everton Sena, se eu não me engano, quando eu cheguei eu falei “Everton, eu estou impressionado com a estrutura e eu não quero voltar não, não quero regredir na minha carreira não. Se eu não for continuar aqui eu quero coisa maior, coisa melhor para minha vida e eu vou me dedicar, vou dar a vida aqui nesse clube para eu conseguir a renovação de contrato”, então claro que a estrutura ajuda numa recuperação pós-jogo, numa suplementação, campos bons para treinar, coisas que muitos clubes não têm, mas aí vai muito do jogador também, se ele está comprometido, está empenhado ou não.
Você fez uma grande temporada pelo Avaí ano passado e conquistou o acesso para a série A. Você teve proposta de quais clubes para esse ano?
Eu tive a proposta de renovação do Avaí, tive uma situação de fora do Brasil também, dos Estados Unidos, e tive a proposta do Goiás. Então, acabei colocando na balança tudo e decidi junto com a minha esposa, a gente conversou com meu empresário e achei melhor vir para o Goiás.
E o que mais pesou nessa decisão?
No Avaí eu ia jogar uma série A, ia jogar minha primeira série A, um clube onde eu já tinha feito meu nome, estava com moral mas na parte financeira ali é um clube que passa por uma dificuldade, então eu precisava de uma estabilidade pra mim, pra minha família. Ano passado a gente acabou subindo para série A mas com três meses de salário atrasado, não recebia e muitas promessas que não cumpriam, então, como eu falei, tirei informações daqui do Goiás, vi como era um clube correto, um clube que dava todo o suporte e acabei decidindo vir para cá.
Durante o processo de decisão de vir para cá, alguém do Goiás conversou com você, comissão, diretoria, apresentou o projeto para esse ano?
Na verdade, meu empresário acabou negociando, e depois que finalizou a negociação, o Harlei me ligou um dia, eu estava em casa, ele falou assim: “Fábio, conversei com seu empresário, mas a gente não se falou pessoalmente ainda. Eu quero agradecer por você estar vindo para o Goiás e dizer que a gente te dará todo o suporte, tudo o que você precisar você pode contar com a gente e você vai estar chegando em um grande clube que chega para ser vencedor. Que a gente possa ter um ano bom de vitórias. ”. Foi isso, essa mensagem que ele passou para mim desejando boa sorte.
Como foi a recepção do elenco para você e para os novos contratados?
Foi bacana. Na verdade, teve uma boa reformulação, então acabaram chegando bastante jogadores novos, mas foi tranquilo. O pessoal é muito gente boa, todos os funcionários recebendo a gente bem, os jogadores que ficaram, então foi tranquilo. A gente já entrosou rápido, já bateu um papo ali, e já ficou tudo certo. Até porque muitos ali falaram que ano passado não tinha um grupo muito unido, que era meio difícil, mas esse ano eu posso dizer que é um grupo unido, um grupo em que todo mundo procura se ajudar e espero que dê certo dentro de campo.
Hoje no elenco quem são os principais líderes ?
A gente sabe que o Walter é um cara que está ali sempre à frente, é o nosso capitão. Então todo problema que tem, conversas que tem que passar para a diretoria, que tem que ter alguma conversa assim, é sempre o Walter ou o Gamalho. O Gamalho é um cara que está sempre ali conversando mas em questão motivacional, acho que todo mundo tem um pouquinho. A gente até falou durante os treinamentos, até o Kleina falou que queria essa cobrança entre a gente, que queria um cobrando o outro, e que não adianta só ele ficar cobrando, pegando no pé toda hora, porque senão acaba ficando chato, então ele queria essa cobrança. A gente entendeu isso aí durante os treinamentos e jogos e está todo mundo falando um pouco, cobrando e isso foi bom para o grupo.
Qual o objetivo de vocês para o Goiás? É lógico que o torcedor espera o retorno à série A, esse é o objetivo maior, mas vocês conversam sobre Copa do Brasil, esse tipo de coisa?
Logo que a gente chegou teve uma reunião com a diretoria, com a comissão técnica, e foi falado que não adianta a gente ficar pensando no acesso para a série A e deixar a Copa do Brasil e o Estadual de lado. Então a gente tem que fazer um bom Estadual sim, a gente quer o título e a gente quer fazer uma boa Copa do Brasil. Até porque, se não me engano nas duas últimas, o Goiás saiu no início, então a gente quer chegar nas fases finais da Copa do Brasil, quer o título do Estadual e, sem dúvida, o mais importante que a torcida e todo mundo quer é o acesso para a série A.
Você já tem quatro acessos na carreira, o que todos esses times tinham em comum que conseguiram esse sucesso? É o ambiente, a união, o comprometimento?
Tudo um pouquinho, mas quando o grupo está unido, comprometido, aí as coisas ficam mais fáceis. Como eu falei, no Avaí a gente pegou uma fase difícil ali em questão financeira, não recebia. A gente se uniu e colocou na cabeça que tinha que conseguir o acesso para tentar receber e, de alguma maneira, cobrar o presidente, e acabou dando certo. Não que precise chegar a essa situação de não receber, mas quando tem um grupo unido, um grupo que está querendo, aí as coisas já começam a caminhar mais fácil. Aqui no Goiás desde que cheguei foi cobrado isso pela diretoria, que queria um grupo unido, uma família mesmo e nesse pouco tempo já dá para ver que está dando certo, que está formando uma família mesmo.
Qual avaliação que você faz da pré-temporada e dos dois primeiros jogos?
A pré-temporada foi boa, a gente ficou concentrado ali, se não me engano, 10 ou 12 dias no CT. Foram dias de treino intenso, alimentação regrada, descanso, isso é importante para o jogador. O jogador tem que passar por isso para conseguir fazer um ano inteiro bom, sem lesões, bem fisicamente. Então, na minha opinião, foi boa a pré-temporada. O primeiro jogo contra a Aparecidense foi um bom jogo, mas a gente ainda estava se sentindo meio preso, primeiro jogo, sabe como que é. Contra o Rio Verde a gente já estava mais solto, tanto é que conseguimos criar bastante oportunidades de gol, chegamos bastante no gol do adversário, então foi bom mas ainda tem muito o que melhorar. Nossa equipe vai evoluir muito ainda, a gente vai entrosando com o passar dos jogos. Fiquei satisfeito (com meu desempenho), mas há muito o que melhorar junto com a equipe, acho que cada um vai evoluindo, melhorando tecnicamente e com isso a equipe vai crescendo.
Com apenas dois jogos na temporada é difícil aplicar todas as ideias de jogo do treinador e apenas com o tempo e entrosamento que se pode aplicar a fundo os conceitos treinados. O que o Gilson Kleina pede para vocês? Ele pretende jogar com uma linha de defesa mais adiantada com posse de bola ou um jogo mais direto?
Olha, o que ele vem cobrando muito a gente é uma movimentação muito grande dos meias, essa posse de bola que passe pelos meias. Ele quer essa movimentação para criar espaço. Ele quer um time ofensivo. Todas as vezes que conversamos e fizemos coletivo ele pede para gente estar indo para cima, uma marcação alta para não deixar o adversário sair jogando, ele está querendo colocar um time para cima, mas é claro que no meio do jogo tem situações em que precisamos saber defender, suportar o time adversário. Ele está batendo muito nessa tecla, uma movimentação forte, posse de bola e time ofensivo.
Eu vi em uma entrevista sua que você se considera um zagueiro sério, que não tem vergonha de dar chutão. Existe algum pedido do Kleina para tentar sair jogando, ele pede para evitar chutão ou a regra é não arriscar?
Ele pede (para tentar sair jogando), a gente treinou bastante. Tem momentos que o time adversário aperta e a gente treinou uma entrada do volante no meio dos zagueiros, eu e o Everton acaba abrindo para o volante vir jogar. O Kleina pede para a gente sair jogando, mas ele é um cara consciente, sabe que a hora que precisar dar um chutão tem que dar e ele não reclama nem acha ruim, é um treinador experiente e sabe como funciona dentro de campo.
O Kleina treinou algumas variações táticas? Pensa em utilizar três zagueiros em alguma oportunidade ou isso nunca foi discutido?
Com três zagueiros não, ele treinou essa entrada do volante e os dois zagueiros abrem. Ele treinou algumas situações com os volantes e os meias, algumas variações em que não precisa mudar as peças, com os mesmos jogadores, mudamos a formação durante o jogo e ele também treinou algumas situações que caso o jogo não encaixe a maneira que estamos jogando ele já tem outras maneiras de jogar.
Como está o ânimo e a preparação para domingo? Quais devem ser as maiores preocupações do sistema defensivo em relação ao atlético? O Kleina já passou algo para vocês?
Na verdade, ele ainda não passou nada, a gente ontem fez um treino de recuperação, então ele deve passar hoje ou amanhã e falar do time deles, mas a gente conhece de jogar contra. É um time que mudou bastante também, trocou muitas peças, a gente sabe da qualidade deles. O atacante deles, o Viçosa, é um atacante perigoso que faz gols. Precisamos estar atentos, fazer uma movimentação do nosso time para criar oportunidades e a parte defensiva deve estar ligada o tempo todo pois um segundo de vacilo pode tomar um gol e complicar o jogo inteiro.
Você tem alguma referência no futebol na sua posição?
No futebol brasileiro não mas gosto muito do Sergio Ramos, é um zagueiraço. Acompanho, gosto muito da forma dele de jogar por ser um zagueiro técnico, mas também na hora que tem que dar um chutão ele dá. É um cara que sempre está fazendo gols na hora que precisa, acho legal demais isso daí, sempre acompanho os jogos dele.
Qual foi o jogador mais difícil que você teve que marcar até hoje?
Tiveram dois que achei bem difícil. Um foi o Guerreiro quando estava no Corinthians, é um jogador muito forte, é difícil estar marcando ele e o outro foi o Barcos na época de Palmeiras. É um jogador muito alto e muito forte então ele protege muito bem a bola. São jogadores difíceis de antecipar e roubar a bola. Teve alguns outros, mas esses dois foram os mais difíceis.
Qual é seu maior sonho no futebol? Conquistar algum título em especial, voltar para a Europa?
Eu tenho vontade de voltar para a Europa. O sonho de todo jogador é jogar lá. Eu tive essa passagem (pelo Mallorca-ESP) que não foi boa pois estava machucado e não consegui jogar. Então eu tenho sim vontade de voltar. Meu maior sonho é jogar em um grande clube europeu, não só meu, mas da maioria dos jogadores. A gente sabe como é, campeonato bom, estrutura, é diferente lá. Então hoje meu maior sonho é voltar para lá.
E tem muita diferença no jogo e estilo de treinamento entre lá e aqui?
Da Espanha, quando fui para lá, normalmente se treina apenas um período, não tem isso de treinar dois períodos como treinam aqui. Lá é um jogo mais rápido, mais dinâmico, sempre com toque de bola, passe muito forte, não tem muito essa de pegar a bola e ficar pensando. Mas tem a diferença também de o brasileiro fazer sucesso lá porque vai para o drible e essas coisas eles não têm. Eles são muito passe, essas coisas mais simples, então é por isso que o jogador brasileiro faz sucesso lá.
Teve algum treinador que te marcou?
O treinador que aprendi muito foi o Claudinei no Avaí. Ele chegou e o trabalho dele foi muito voltado para a parte defensiva, cobrava muito a linha de quatro ali atrás, a marcação e o posicionamento, então foi um treinador que aprendi muito…. Por ter sido goleiro ele está sempre orientando a gente e também por estar jogando junto com o Betão, um cara mais experiente, mais rodado. Então no Avaí foi um ano muito bom para mim.
Hoje um programa esportivo de muito sucesso no cenário nacional é o Resenha da ESPN onde os jogadores contam histórias do mundo da bola. Você já viveu alguma situação inusitada ou engraçada nos clubes em que passou?
História que venha a cabeça agora não tenho. Tenho uma extracampo, com minha esposa. Estava em Belém, no Paysandu, estava muito bem lá, e aí foi uma equipe do SBT na minha casa fazer uma entrevista comigo e achei que fosse uma entrevista normal. Começaram a entrevista e daí a pouco me pediram para fazer uma receita para eles, para cozinhar. Falei “meu Deus do céu, não sei fazer nada cara”, já dei o migué, “não sei fazer nada não, não sei cozinhar e tal”. Ele perguntou para minha esposa se eu sabia fazer alguma coisa e minha esposa respondeu que eu sabia fazer um miojo que fica gostoso demais (risos). O cara pediu para eu fazer um miojo para ele experimentar, dei o migué, fui lá no armário dei uma olhada e falei “pô irmão, não tem não, fica para a próxima aí” (risos).
E no Goiás, quem comanda a resenha?
Ali é o Walter viu cara, é uma figura. Estão pegando muito no pé do Paulinho também, estão tirando muita onda com ele, mas na brincadeira. Os caras são gente boa demais e é legal né, é bom ter esse ambiente descontraído, a gente chega no vestiário e todo mundo batendo papo, tocando música, um brincando com o outro, então é gostoso, o cara se sente bem para trabalhar.
Fábio, mais uma vez muito obrigado por ter nos atendido, a torcida esmeraldina deseja todo o sucesso para sua carreira no Goiás.
Valeu, eu que agradeço e que possamos atingir nossos objetivos. Vai ser bom para nós jogadores, para o Goiás, para a torcida também, vai ficar todo mundo satisfeito e feliz. Espero que dê tudo certo esse ano.
E aí torcedor esmeraldino, o que mais te chamou atenção nesta entrevista? Deixe seus comentários!
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