Mil dias à frente do Goiás: Paulo Rogério explica dificuldades em gerir um clube fora do eixo Rio-São Paulo

Goiás
Foto: Reprodução/MKT Esportivo

O presidente executivo do Goiás Esporte Clube, Paulo Rogério Pinheiro, completou mil dias no cargo máximo que um dirigente de futebol pode alcançar. Com isso, ele escreveu um artigo para o portal MKT Esportivo, onde falou sobre esse período na presidência do Goiás, além das dificuldades em gerir um clube fora do eixo Rio-São Paulo. Confira na íntegra:

Mil dias à frente do Goiás

Goiás
Paulo Rogério Pinheiro, presidente do Goiás – Foto: Wesley Costa

“Era manhã do dia 5 de janeiro de 2021. No vestiário do estádio Hailé Pinheiro, antes do treino, reuni atletas e comissão técnica para uma conversa.

Nesse diálogo, que foi um dos meus primeiros atos como gestor do clube, informei a eles que quitaria os quatro três meses de salário, férias e 13º que estavam atrasados, para atletas e funcionários, e que, a partir de então, em minha gestão, isso jamais aconteceria.

Naquele mesmo ano, com um orçamento apertado, tivemos a árdua missão de sair da Série B e voltar para a elite do Brasileirão. A confirmação do acesso veio no dia 22 de novembro de 2021, quando vencemos o Guarani, por 2 a 0, em Campinas.

Mas como fui parar ali? O Goiás entrou na minha vida quando eu ainda estava na barriga da minha querida mãe, Marylena Pinheiro, graças ao meu pai, Hailé Pinheiro, que, em 1963, aos 26 anos, já ocupava o cargo de presidente do clube.

Sempre fui próximo à instituição, colaborando, mas nunca tive a pretensão de ser o presidente. Jurava de pé junto aos meus amigos e familiares que não seria e os motivos eram vários: não tinha essa vaidade, não achava necessário e meu pai nunca quis. Depois de certo tempo e com muito diálogo, a história ganhou novos rumos.

Bem, a situação que encontrei ao assumir o desafio, no início de 2021, além da parte esportiva, já citada acima, era a seguinte: tínhamos 60 milhões de dívidas a curto prazo para vencer, 45 ações trabalhistas (hoje são 4) e 30 ações cíveis (hoje são 18). Atualmente está tudo a mil maravilhas? Claro que não. Mas posso dizer que a terra, antes arrasada, agora está bem cuidada e com enorme potencial de gerar bons frutos.

Hoje completo mil dias na função de presidente. Nesse período, investimos na modernização do Estádio Hailé Pinheiro, que passou a ser a nossa casa, mudança que refletiu em uma redução de 54,7% nos gastos de operação de jogos. Orgulhosamente, fomos o primeiro clube do país a adotar o reconhecimento facial para 100% da torcida, tecnologia que está sendo seguida agora por outras equipes.

Em termos de receita, saltamos de R$ 46 milhões em 2021 para R$ 97 milhões em 2022, um crescimento de 110%. A dívida, que estava na casa dos R$ 44 milhões, reduzimos para para R$ 24 milhões, um alívio de 45%.

Na base, retomamos o protagonismo. Neste ano vencemos o Campeonato Goiano em todas categorias: sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20.

Na parte social, fomos o primeiro clube do centro-oeste a ter um camarote especial para as pessoas diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Também lançamos um programa gratuito de sócio-torcedor para essa comunidade, além de termos feito uma camisa especial, com a participação de crianças autistas. Os uniformes, após serem utilizados pelos atletas em uma partida oficial, se transformaram em doações a entidades que atuam nessa causa.

Dito isto, fica evidente que gerir uma equipe vai muito além do campo.

Já quanto ao futuro, acredito que o torcedor pode sim voltar a sonhar, esperar por novas conquistas e ver o clube se manter em evidência no cenário brasileiro. Não adianta fazer loucuras, temos que pensar a longo prazo, subir um degrau a cada ano, e isso o passado já nos deixou como lição.

Na década anterior, chegamos ao auge, com boas campanhas em competições nacionais e internacionais. Porém, quanto maior o lance da escada, maior é o tombo. Depois disso, ficamos dez anos parados no tempo, vendo clubes menores nos ultrapassando e nada sendo feito. Hoje, estamos de volta aos trilhos.

No entanto, mais importante do que encontrar o caminho correto, é se manter nele. Por isso, precisamos urgente de uma mudança estatutária, ainda para este ano. Não podemos deixar que aventureiros e aloprados que se dizem sabedores de tudo do futebol acabem com o nosso clube e saiam impunes. A meu ver, a partir do momento em que um presidente deixar de pagar impostos e salários, sem justificativa plausível, já deve ser afastado e pagar com seus bens pessoais o que está devendo. Se ficar provado que houve uma má gestão, que ele seja expulso também do quadro de sócios e conselheiros. Temos que ser mais duros com essas pessoas, para não perder tudo o que foi construído até aqui.

O Goiás nasceu de um sonho. Tudo começou no dia 6 de abril de 1943, na calçada da Rua 23, onde um grupo de amigos se reuniu sob um poste de iluminação pública para debater a criação da instituição. O local, inusitado, já nos mostrava que realmente o clube teria uma trajetória “iluminada”, apesar de todos os percalços.

Por estarmos fora do eixo Rio-São Paulo, a jornada se torna ainda mais árdua, digo isso em termos políticos e também comerciais, já que muitas empresas não entendem a potência que o futebol goiano possui. Para mudar essa realidade, temos atuado com muita seriedade, cumprindo com todas as obrigações financeiras junto aos atletas, federações e parceiros, o que nos ajuda a construir uma credibilidade junto ao mercado nacional.

Confesso que ser presidente de um clube é uma responsabilidade imensa, precisamos funcionar como máquinas, 24 horas por dia, nos sete dias da semana. Requer abdicação, entrega e muito profissionalismo. Os problemas são incontáveis e se multiplicam a cada minuto.

Mas esse foi um desafio que decidi assumir, sabendo de todas as dificuldades. Às vezes exagero em minhas falas, faço declarações que se transformam em polêmicas. Não é de caso pensado. Sempre que me pronuncio é para defender o clube e afirmo que continuarei lutando pelos interesses da instituição, sem receio algum.

Por mais que as adversidades sejam grandes, a vontade de deixar um legado positivo precisa e vai prevalecer”.

Fonte: MKT Esportivo

Leia Mais: