No limite da limitação.

Ontem fui mais uma vez ao Serra Dourada, “desconfiado” porém confiante no fato de que o Goiás havia vencido todos os jogos em que estive no estádio nessa Série A. Isso pode parecer tolice e ingenuidade, mas quando se tem um time de coração como o Goiás, precisamos procurar entender o que falta para o time voltar a se impor “psicologicamente” no maior palco do futebol goiano.

Tudo bem que para os mais céticos, o Goiás é o único time que perdeu para o CSA e empatou com o Avaí, mas se olharmos abaixo de nós, especialmente para a zona de rebaixamento, vencemos Fluminense e Chapecoense, além do Ceará e Botafogo.

Nosso aproveitamento é pouco superior a 50%, o que, aos trancos e barrancos, já nos garantiria na elite para o ano que vem, talvez um pouco mais organizados e com uma base mantida, coisa que não aconteceu esse ano, quando perdemos treinador e muitos jogadores, gostem ou não, responsáveis pelo acesso e que pelo menos conseguiu o título estadual, além de terminar como melhor defesa e melhor ataque no Goianão de 2018.

Talvez nosso grande erro (e aí eu falo de torcedor pra torcedor) é ir para o estádio pensando grande demais e querendo reviver momentos do passado, sempre marcados pela presença de jogadores consagrados ou experientes. Os torcedores que acompanham o Goiás há mais tempo não conseguem se esquecer das grandes campanhas de 2005 e 2013 e de parte do elenco de 2003 que fez sucesso no São Paulo.

Hoje temos um treinador relativamente jovem e que só trabalhou em clubes médios (era da comissão técnica do Santos e não foi mantido ao final da temporada em que era técnico interino), mas mesmo tendo dirigido importantes equipes (Santos, Goiás, Paraná, Atlético Paranaense, Vitória, Paraná, Avaí, Sport e Chapecoense), ainda não tem nenhum título em seu currículo.

Quanto ao nosso elenco, não é difícil entender onde está o problema. Nossos principais jogadores hoje são Tadeu, Michael, Léo Sena, Yago e Jefferson. Os caras que carregam o time estão aí e são os protagonistas da equipe, enquanto os demais, embora tenham contribuído de forma decisiva em alguns jogos, atuam como verdadeiros vaga-lumes (ainda não é hora de dizer que estão “pipocando”).

Nosso ousado esquema de jogo não surpreende mais ninguém, por isso é o momento de variar e criar opções viáveis, já que o elenco não foi reforçado e não há perspectiva de que isso aconteça a curto e médio prazo. Ou começamos a testar mais um volante de marcação, com a entrada de um terceiro zagueiro nessa função, ou é hora de testar Léo Sena mais avançado e, talvez, Michael na função de centroavante. O resultado não poderia ser pior do que conquistar dois pontos em nove disputados após a Copa América.

No Goiás, a base e as apostas estão mostrando serviço, enquanto que jogadores com maior rodagem não conseguem assumir o protagonismo e sequer exercem o papel de liderança. Não temos um líder em campo, que saiba fazer a leitura do jogo e ajudar o treinador na orientação dos jogadores.

Por isso, estamos chegando no limite das nossas limitações. Os jogadores, com raríssimas exceções, não conseguem criar e decidir. Os poucos que criam, as vezes não tem “pernas” parra decidir. Ontem foram dois lances dentro da área em que alguém deixou (passou a bola) para outro decidir, dando prova da insegurança da equipe.

E não me venham com papo de que aquela goleada sofrida no Rio de Janeiro abalou a equipe. O atual líder já perdeu de 4×0 nesse mesmo campeonato e, mesmo com um treinador que reclama publicamente do elenco e da diretoria, está brigando na ponta tabela desde o início. Não precisamos brigar na ponta, mas podemos melhorar nosso desempenho, principalmente como mandante.

Penso que nosso treinador vive sempre com o fantasma da desconfiança e, por esse motivo, não tem força para se impor e cobrar uma reação dos jogadores. Mas Claudinei precisa reagir e cobrar mais atitude dessa equipe. Ele sabe que só termina o campeonato se for muito bem. Se não pensa assim, aí não tenho muito o que dizer pra ele. Aquela alteração no final do jogo (Rafael Moura) foi muito arriscada e de certa forma uma “jogada para a torcida”.

Se for pra Michael decidir os jogos, que ele entre de atacante na próxima. A participação de Kayke e Barcia no último jogo foi pouco efetiva, principalmente de Barcia que recebeu a bola na área em duas boas oportunidades e “rifou” uma vez, e “isolou” na outra. São 11 (onze) rodadas de oportunidades.

O próximo jogo é de altíssimo risco. Fora de casa contra o líder Santos, que tem um dos melhores ataques e uma das melhores defesas. Vejo Michael e Léo Sena sobrecarregados nos últimos jogos Marcam, apoiam e ainda tem que criar as jogadas, coisa que os demais do meio campo não conseguem fazer.

Longe de mim querer escalar o time, mas seria bom pensar em um esquema defensivo mais seguro para esse próximo jogo, de modo que esses dois recebam a bola em melhores condições e possam ter liberdade em campo, mas sem a responsabilidade de ter que ajudar tanto na marcação, o que os sacrifica fisicamente, se compararmos com Barcia e Geovane, que estão marcando mal e apoiando pior ainda. Um desses dois poderia sair para a entrada do Yago Felipe, caso Léo Sena tenha condições de jogo. Com isso, o meia da base seria merecidamente testado mais a frente, já que Giovanni Augusto e Marlone ainda não se encontraram em campo.